Publicado por: Política Externa | 09/10/2010

[Entrevista] Fortalecer Mercosul é prioridade, diz Celso Amorim

 

Celso Amorim: "Nossos empresários estão acostumados a pensar em um país pequeno, que age no mundo na maneira como os americanos chamam de carona" (Foto: AFP).

 

08/10/10

Relações externas: Ministro brasileiro pretende negociar, ainda este ano, o fim das exceções à tarifa comum

Sergio Leo | De Brasília

A pouco mais de dois meses do fim do governo, o ministro de relações Exteriores, Celso Amorim, vê como prioridade, ainda neste ano, a adoção de medidas de fortalecimento do Mercosul, como o fim das exceções à tarifa externa comum. Ele reconhece que há grandes dificuldades para aprovar essa iniciativa, inclusive por parte do Brasil. Em entrevista ao Valor,  Amorim reagiu com impaciência às queixas de empresários contra barreiras nos mercados da América do Sul e ameaças a seus negócios na Venezuela.

“Em qualquer dificuldade já surgem fantasmas, dizem que vai acontecer isso ou aquilo, mas na prática até agora não aconteceu nada disso”, reagiu o ministro, ao saber das queixas do setor de máquinas e equipamentos sobre risco de perda de mercado com as nacionalizações feitas pelo governo venezuelano. “O comércio tem crescido, estamos ligados a projetos de desenvolvimento locais”, relatou, pedindo paciência para que se aclare a situação política no país vizinho. “Vamos esperar esse período por que passa a Venezuela, eleitoral e pós-eleitoral, para analisar essas questões”, disse.

“Nossos empresários estão acostumados a pensar em um país pequeno, que age no mundo na maneira como os americanos chamam de ‘free rider’ (carona)”, acusou Amorim, ao relatar seus planos para o Mercosul, de maior integração com países vizinhos. “O Brasil tem de pagar o preço de sua grandeza, se interessar pela paz mundial, pela paz regional, isso custa um esforço”, argumentou, defendendo a política do governo Lula, de reforçar os laços com os governos do continente.

A proposta de fim das exceções na tarifa externa foi levada pelos diplomatas brasileiros à reunião com técnicos dos outros sócios do Mercosul, em Manaus, nesta semana, que começou a discutir um plano de dez anos para o Mercosul. Os argentinos, segundo informou o subsecretário de Integração Econômica e Mercosul argentino, Eduardo Sigal, apresentaram uma proposta “mais ampla” para integração de políticas comerciais e econômicas, incluindo a criação de um banco regional de desenvolvimento e programas de desenvolvimento de ciência e tecnologia.

Amorim revelou que há análises no governo apontando dificuldades para a eliminação de exceções à Tarifa Externa Comum (TEC) e para o fim da chamada dupla cobrança – os produtos que já pagaram a TEC são obrigados a pagá-la de novo quando passam na fronteira de um sócio a outro do Mercosul. “Talvez ainda precisemos de exceções para os bens de capital, mas podemos negociar com o tempo, há formas de se fazer isso”, comentou, sugerindo cronogramas de eliminação das exceções.

Ele defende também dar impulso a negociações para uma política comum de investimentos, serviços e compras governamentais, que eliminaria restrições a empresas do Mercosul entre os países do grupo. “Há um bom clima para isso, a última reunião foi muito positiva.”

Amorim diz que, neste semestre, em que o Brasil tem a presidência temporária do Mercosul, gostaria de aprovar uma medida “simbólica”, para que argentinos, brasileiros, uruguaios e paraguaios pudessem passar pelas alfândegas dos quatro países pelos guichês reservados aos passageiros nacionais.

“Como na União Europeia, onde não se faz distinção entre espanhol ou francês, por exemplo”. A ideia, levantada por ele no governo, esbarra em resistências no Ministério da Justiça, assim como outras medidas estão paradas na Receita Federal. “É muito difícil, são burocracias que criam filosofias, não por má-fé, mas por achar que é de interesse nacional”, desabafou.

Outros temas da agenda internacional são vistos com mais pessimismo pelo ministro. A proximidade das eleições nos Estados Unidos desencorajam esperanças de avanços na chamada Rodada Doha, de liberalização comercial, e as notícias sobre as negociações do clima indicam que não haverá avanço na próxima reunião sobre o tema, neste ano. O presidente Lulaaproveitará a reunião do G-20, na Coreia, em novembro, para cobrar avanços nesses e em outros temas multilaterais, adiantou Amorim.

Valor Econômico – Ministro quase se tornou suplente de senador

Sergio Leo – De Brasília

O Rio de Janeiro, por pouco, não elegeu como suplente de senador o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim. O ministro confirmou ao Valor que foi convidado, no início do ano, para participar como suplente da chapa de Lindberg Farias (PT) ao Senado. Amorim, que se filiou ao PT em setembro de 2009, havia cogitado lançar-se candidato à Câmara, e ficou tentado a aceitar o convite do político carioca – apesar, segundo conta o próprio Amorim, da oposição da família.

O ministro, em março, chegou a informar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que pretendia pedir demissão para sair candidato. Lula o convenceu a ficar. Lindberg foi o mais votado ao Senado, com 4,2 milhões de votos, pouco menos de 29% do total válido. “Não me arrependo, nesse período (desde a decisão de ficar no governo) fiz muitas coisas importantes”, comentouAmorim, mencionando a negociação comandada por ele para um acordo entre Brasil, Turquia e Irã, para a troca de urânio enriquecido destinado ao programa nuclear iraniano.

Mesmo criticado, o acordo é apontado por governos e imprensa estrangeira como um ponto importante na negociação do Irã, argumenta Amorim. Ele não confirma as informações de que o convite de Lindberg trazia embutida a perspectiva de exercer o mandato de senador, com a saída do titular do Senado para um ministério ou para outra candidatura a algum cargo no Executivo. “Ele jogou com várias teses”, desconversa. “Fiquei tentado em acompanhar um jovem político de futuro, que terá importância para o país”, disse o ministro.

Amorim conta que não conhecia Lindberg, com quem havia se encontrado em ocasiões formais poucas vezes – uma das quais nem lembrava. Lindberg, ao convidá-lo, disse que sua presença na chapa poderia fortalecer a candidatura, pela boa imagem que o ministro teria no Rio. ” Foi gratificante”, confessa Amorim. (SL)

Fonte: Valor Econômico


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